Este é o primeiro disco a solo de Reininho. Tivemos alguns brainstorms com o Rui, mesmo antes de existirem maquetas das músicas. Na verdade, todo o processo foi inverso ao que é habitual quando se faz um álbum, uma espécie de “arte com final em aberto”, onde se valoriza o processo e tanto quanto o produto final. Ele já tinha um nome para o álbum: Companhia das Índias (trocadilho e analogia com a Companhia da Índia Portuguesa do século XVI), e tinha em mente convidar alguns artistas portugueses, alguns deles bastante improváveis, para participarem com algumas músicas.
A parte mais complicada foi fazer o público perceber que este foi um projeto pessoal do Rui e não a sua banda dos últimos 30 anos. Dentro do tema estudamos várias soluções, algumas mais ousadas do que outras, e a criação de um alter-ego foi consensual e uma ideia que surgiu quase de imediato. Um viajante do tempo, um personagem falso príncipe das trevas, o Dr. Optimista, sempre otimista, não há crise que lhe resista – uma criatura completamente positiva que acredita na humanidade e na espiritualidade.
Não é exactamente uma atitude circense tão rica quanto isso, é quase como um personagem que gasta muito nas partenaires e pouco no que interessa: nos props e truques. Basicamente é isso que acontece. À volta disto faz-se um filme, uma média metragem em que as coisas aparecem e desaparecem, um pouco como na natureza, como na vida real. Um istmo entre a antiguidade e a modernidade, e todos estes séculos. A metamorfose do Minotauro Ibérico. “já passámos a mentalidade de fim de século, agora as coisas têm tendência a tornar-se revolucionariamente boas, vai haver mortes, haverá mortos e feridos, mas a tendência é para diminuirmos o sofrimento.”
Aberto o disco, o desdobramento do livro é uma viagem até ao palco do Dr. Optimista, onde o espetáculo acontece.
O CD em si é um pequeno espelho árabe cujo objetivo é reforçar a mensagem presente no lado esquerdo da bandeja, encarar-se a si mesmo e refletir antes de agir. Está lado a lado com a citação de Arquíloco: “Tenho uma arte que muitos temem: a de saber ferir aqueles que me ferem.”.
O estilo tipográfico reflete o conteúdo das letras.
‘Pela minudência, persistência e presencia, Pádua é um florentino da arte do bem criar, quantas vezes confundida pela parte de recriar ou simplesmente decorar. Recomendado em pequenas doses e sob vigilância única.’ - Rui Reininho